quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

OBRIGADO, SENHOR, OBRIGADO!

Eu não acreditava, mas queria acreditar. No Natal de 1975 recebi a dádiva de acreditar para sempre. Minha filha, Alessandra, de três anos assistia TV deitada num pequeno tapete no chão da sala. Já havia algumas semanas que um comercial encantava a menina, apresentando uma boneca chamada “Cosquinha”. À medida que se fazia cócega nas plantas dos pés da boneca, esta se punha a rir gostosamente. Estávamos a vinte dias do Natal. Eu como sempre desempregado, sem dinheiro e sem perspectiva de tê-lo no bolso. Minha filha aproximou-se e abaixou o livro sem cerimônia em minhas mãos e apontou a TV: – Je, eu quelo a boneca cosquinha e o carrinho da boneca! Respondi-lhe tentando dissimular: – Filha o papai já falou que vai comprar uma boneca que não ri, nem chora, mas é bonitinha igual a você! – Não quelo – retrucou a menina – só quelo a cosquinha e o carrinho.
De repente e pela primeira vez na minha vida tive a idéia de tentar acreditar, mesmo não acreditando nos poderes da mente. Precisava testar. Necessitava de uma prova para me dar ao luxo de ter fé, o velho problema da humanidade. Chamei a pequerrucha que já se afastava chorosa e então lhe disse com todas as palavras pausadamente: – Filha, você só quer a boneca cosquinha e o carrinho da boneca, né? – ela respondeu meio desconfiada e quase sorrindo, que sim. Disse-lhe então que ela iria ganhar no Natal do Papai do céu. A menina bateu palminhas numa alegria incontida, sorrindo satisfeita. – Mas, tem uma coisa – fui dizendo, tomando-a nos braços e aconchegando-a no colo – você deverá todos os dias até o Natal dizer para o Papai do céu três vezes quando for dormir à noite e mais três vezes quando levantar pela manhã: “o Papai do céu vai me dar a boneca cosquinha e o carrinho da boneca no Natal. Muito obrigada Papai do céu”. Minha filha passou a fazer as orações do jeito que lhe pedi ao deitar-se e ao levantar-se. Uma noite ela acordou a mim e minha esposa para nos lembrar de que não havia feito a oração. E – jamais me esquecerei daquela cena – ajoelhada no berço pôs as mãos em palma e recitou três vezes a prece petitória, gesto que me calou fundo.
No dia 23 de dezembro surgiu uma oportunidade para mim. Eram bichos e bonecas de pelúcia, daquelas que se costurava apenas a cabeça a um corpo de enchimento de isopor. Não era muita coisa, mas recebi um prazo bom de pagamento e as vendas dariam para o Natal. Entretanto, as vendas nas ruas mesmo debaixo de chuvas surpreenderam-me e tive o cuidado de reservar uma das bonecas de pelúcia para minha filha, já que sabia não ter condições de comprar a boneca cosquinha. Minha esposa e eu havíamos combinado passar o Natal na casa de minha mãe, a qual costumeiramente fazia uma festança na noite da véspera. Ela residia próxima a estação da Luz no bairro de mesmo nome. Minha esposa e a menina foram para lá, enquanto eu resolvi perambular por toda São Paulo atrás da cosquinha e do carrinho. Este último consegui comprar, mas a cosquinha não encontrava e quando localizava uma por acaso, o preço era exorbitante, entre 3 a 4 mil cruzeiros.
Pela uma hora da madrugada as lojas já fechavam as portas. Resolvi desistir e voltar para casa de minha genitora. Foi neste momento que me deparei com uma loja, cuja porta estava baixada até um metro do solo. Olhando por baixo da porta percebi que lá dentro separavam caixas e limpavam as prateleiras. Um homem perguntou-me o que eu queria. Expliquei-lhe adentrando a loja. A resposta não demorou: – Não tem mais! – agradeci e fui saindo devagar, quando ouvi:
-Moço! Moço! – Voltei-me e vi um rapaz loiro no alto de uma escada segurando a boneca tão desejada, a qual gargalhava sem parar acionada que fora pelo dispositivo eletrônico. Ela ficara esquecida no fundo da caixa e em razão disso não fora vendida. Fiquei chocado e sem fala. Mas, havia ainda o preço e procurei aparentar tranqüilidade. – Quanto é? – indaguei amedrontado. O proprietário respondeu: – seiscentos cruzeiros. Faço a preço de custo por ser a última venda deste Natal. – Respirei aliviado e agradecendo intensamente a Deus e ao comerciante.
O relógio do Mosteiro de São Bento badalava a uma e trinta da madrugada do dia 25 de dezembro de 1975, enquanto eu sobraçava um belíssimo troféu conquistado não por mim, mas pela minha filha Alessandra. As lágrimas não paravam de descer de meus olhos e surpreso e atônito fui repetindo em voz alta:
-Obrigado Senhor, Obrigado!

Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista autor do livro “Prepare-se para o sucesso!” entre outros livros.

O PROTESTO DA NATUREZA



A natureza, através de seus meios de manifestação, protesta com veemência contra o homem e a favor do homem. Tive esta sensação quando assistia pela TV, os moradores de várias ruas na capital paulista jogarem no leito carroçável da rua seus móveis, tais como: camas, colchões, receptores de tv recém adquiridos a duras penas, berços, guarda-roupas, geladeiras, estantes, livros e tudo que fosse inútil pela deterioração com a presença de águas enlameadas, ou saídas dos esgotos à céu aberto em razão dos temporais cada dia mais violentos. Algumas lágrimas ficam impossíveis de serem retidas ao descerem pelo meu rosto. Sim, porque todos nós temos a possibilidades de se colocar no lugar daquelas pessoas. Hoje são elas, amanhã poderá ser nosoutros. A natureza não respeita comezinhos. É ativa e pró-ativa e está sempre em movimento. Tais chuvas ainda são bênçãos no Brasil, muito diferente dos tufões, dos furacões, dos terremotos, maremotos e tsumanis ocorrendo regularmente pelo planeta em áreas densamente povoadas, matando assim milhares de pessoas. O planeta ruge apesar de não ouvirmos nada em nossa surdez disfarçada. Um vulcão pode surgir no chão de nossa casa e aí sim acreditaremos por alguns segundos na manifestação divina. Cada pessoa que sobreviva a uma hecatombe terá a partir daquele momento muito mais fé. Fé em tudo, até em Deus se não possuía anteriormente.
A natureza não se vinga, apenas protesta e este protesto serve muitas vezes para sacudir nossos políticos bons e maus. Os bons nada fazem para justificar o cargo que ocupa; os maus são os ladrões em alta escala. Isto explica as condições terríveis de vida da população pobre manipulada pelo Estado. “Ser pobre no Brasil é ser ninguém/ É ser trambolho que se evita e afasta/ Lei que o proteja logo se desgasta/ Na má vontade dos que tudo tem”. Estes versos são de meu pai e foram escritos na década de 40 do século passado. É um soneto mostrando o perfil do pobre na sociedade brasileira hipócrita daqueles tempos e de hoje também. Não coloquei as outras estrofes para poupar espaço, mas só estes quatro versos já dão uma idéia do tratamento da pobreza desde sempre no Brasil. A vida do pobre no Brasil não é muito diferente da vida do judeu no nazismo. Esta verdade é fácil de ser percebida, quando os diversos governantes brasileiros fingem cuidar dos pobres, ou seja, mentem com um paternalismo fora de moda e deixa o pobre morrer à míngua; já no nazismo não fingia nada e havia sinceridade quando tratavam na paulada os judeus.
A natureza não alcançou ainda as casas fortificadas dos ricos, enquanto destrói a casa e a vida dos pobres. Mas, acredito que irá chegar lá porque o rico tem muitas coisas para pagar e também muitas para perder, quando o pobre já perdeu tudo, até a vida. A natureza não se vinga, apenas protesta, avisa e ensina ao brasileiro pobre como protestar, mesmo porque até hoje neste país o pobre bancou o gatinho bonzinho, mas poderá se metamorfosear numa entidade apocalíptica e ocorrer um gigantesco acontecimento semelhante à Rússia em outubro de 1917. Aquela revolução, embora tenha durado mais de 70 anos, mudou totalmente a maneira de interpretar a cidadania e fez com que o mundo progredisse a olhos vistos, em razão principalmente da concorrência entre dois mundos com sistemas de governos contrários. Daí em diante o pobre deixou de ser trambolho e sim gente, como verdadeiramente é. Apenas um país chamado Brasil continua até hoje a tratar os pobres como se fossem prisioneiros num país repleto de políticos farsantes, de impostos exorbitantes, sem socorro médico, sem salário adequado, sem educação pujante e com uma criminalidade crescente em razão principalmente de uma impunidade crônica deixando o homem honesto cada vez mais envergonhado em sua honestidade, visto que por qualquer erro o pobre é logo preso, cumpre sentenças longas num país que está mais para ser uma província oriental de Xátria.
Sou um anticomunista, mas sou também um anticapitalista, principalmente quando o capitalismo está mais para um feudalismo nojento muito comum em todas as cidades do Brasil e quando a proclamação da República tenha sido um golpe militar e não uma revolução populista. Viver no Brasil de hoje está ficando pior do que viver na Rússia dos tempos da URSS. Eles, com toda a tragédia que viviam naqueles tempos, conseguiram derrotar o nazismo de Hitler, porque foram os primeiros a chegarem em Berlin, destruindo-a completamente.

Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista, Autor do livro “Memórias de um camelô” entre outros livros

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O DIABO



“Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós, os doze? E um de vós é diabo.” – (João, 6:70).
Quando a teologia se reporta ao diabo, o crente imagina de imediato, o senhor absoluto do mal, dominando num inferno sem-fim. Na concepção do aprendiz, a região amaldiçoada localiza-se em esfera distante, no seio de tormentosas trevas. Sim, as zonas purgatoriais são inúmeras e sombrias, terríveis e dolorosas, entretanto, consoantes à afirmativa do próprio Jesus, o diabo partilhava os serviços apostólicos, permanecia junto dos aprendizes e um deles se constituíra em representação do próprio gênio infernal. Basta isto para que nos informemos de que o termo “diabo” não indicava, no conceito do Mestre, um gigante de perversidade, poderoso e eterno, no espaço e no tempo. Designa o próprio homem, quando algemado às torpitudes do sentimento inferior. Daí concluirmos que cada criatura humana apresenta certa percentagem de expressão diabólica na parte inferior da personalidade. Satanás simbolizará então a força contrária ao bem. Quando o homem o descobre, no vasto mundo de si mesmo, compreende o mal, dá-lhe combate, evita o inferno íntimo e desenvolve as qualidades divinas que o elevam à espiritualidade superior. Grandes multidões mergulham em desesperos seculares, porque não conseguiram ainda identificar semelhante verdade. E comentando esta passagem de João, somos compelidos a ponderar: - Se, entre os doze apóstolos, um havia que se convertera em diabo, não obstante a missão divina do círculo que se destinava à transformação do mundo, quantos existirão em cada grupo de homens comuns na Terra?”.
O texto acima é de autoria do Espírito Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, constante no livro “Pão Nosso”, texto de número 164, página 339. Resolvi colocar este vigoroso texto porque estamos vivendo nestes últimos anos violências das mais cruéis e só visualizadas nas guerras, além dos diabólicos esquemas de corrupções principalmente nos meios das autoridades políticas. E isto está acontecendo no Brasil, um país que sempre se gabou de ser pacífico, religioso e apegado ao cristianismo. Emmanuel ponderou que se entre doze apóstolos havia um diabo, apesar da divina missão, quantos existirão em cada grupo de homens comuns? Eu diria que os diabos em um agrupamento gigantesco como o Brasil daria para formar outro Brasil só de diabos. Inocentes são mortos diariamente por indivíduos sem alma e sem coração. Mata-se a troco de nada e o governo mata muita gente de fome, ou deixa-os a mercê das necessidades prementes conforme vemos nos grandes lixões e este mesmo povo ainda aprova estas “coisas diabólicas” no poder. O fato é que os diabos brasileiros ficam na impunidade e os santos são sacrificados. O pobre é assediado e roubado pelos diabos, que permanecem impunes em razão das leis mais fajutas do mundo.
Diante da necessidade urgente de leis mais severas, que jamais virão, em razão principalmente do falso conceito brasileiro republicano-moralista, ou enganador, visto que os políticos muitos deles são verdadeiros bandidos com caras de anjos e não são punidos é onde assistimos cenas comuns de roubos, de distribuição de dinheiro vivo carregado dentro de cuecas, meias e bolsos. São os atestados de que este país abriga ladrões aos montes, ou os “diabos” em grande profusão. Ladrões estes, que por serem políticos permanecem impunes e até regressam com a maior cara de pau para novas eleições e o povo, também diabólico, gosta e os elege novamente. O pobre fica numa encruzilhada entre a honestidade e a desonestidade e se resolve cair na criminalidade, tão comum entre os políticos, aí então o caldo engrossa. O pobre é preso, apanha como um cachorro e paga penas severas, enquanto o político-ladrão fica na boa vida e é eleito sempre que ele queira. O povo merece tudo isto porque afinal até hoje não passa de gado vacum tocado e levado pelos políticos à qualquer lugar, numa enganação nem mesmo praticada pelos antigos romanos. No país do futebol e carnaval somos testemunhas de que isto está mais para a desgraça de um povo do que para a infelicidade de vivermos num lugar não sério e de homens não sérios, principalmente os que usufruem o poder.
Aos meus caros leitores deixo aqui o meu abraço neste Natal de 2009, pedindo escusas por esta matéria nada natalina, porém verdadeira.

Jeovah de Moura Nunes
Autor do romance “A cebola não dá rosas” entre outros livros

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

JESUS: AINDA NÃO O DESPREGAMOS DA CRUZ!



O filme de Mel Gibson “Paixão de Cristo” desenterrou dos escombros de iniqüidades dos cultos religiosos, a verdade absoluta de que os padecimentos de Jesus foram, excepcionalmente, os mais cruéis, mesmo naqueles obscuros tempos, ultrapassando e muito os limites da resistência humana. A exacerbada religiosidade, ou ainda o fanatismo desavisado cegou de tal maneira os atuais seguidores de Cristo que, não acreditaram e muitos ainda não acreditam na extraordinária versão do diretor Gibson. Afeiçoados as suas boas vidas, os protestos de líderes religiosos foram a tônica conseqüente do filme, a nosso ver a mais próxima da realidade. E protestaram de maneira infantil. Sem procurar enxergar nas últimas doze horas de Jesus as mais reais e prováveis extravagâncias, no que concerne à tortura de um ser humano.
Por que este realismo? Porque os atuais cristãos, totalmente afastados dos verdadeiros propósitos do Evangelho, hipnotizados pelo supermaterialismo, pelo excesso de sensualismo, pelas iniqüidades da vida material, necessitavam e necessitam compreender a veracidade dos fatos, que consumaram a vida terrena do maior Emissário celeste que já pisou neste planeta. Compreensão esta, sempre refutada ou pouco avaliada pelo mundo cristão. Com o filme, o cineasta Gibson trouxe o debate novamente. Trouxe uma nova verdade não assimilada, ou recusada por aqueles que não apreciam, ou não observam o sofrimento alheio. Não há opiniões, nem crenças, que sejam maiores do que a verdade provada e comprovada.
A morte por cruz era o insulto decretado para as castas inferiores, cujos crimes eram de roubos, assassinatos, revoltas contra o poder vigente, as fugas de escravos, escravos rebeldes, ladrões e assassinos. Todo aquele que o poder de Roma execrasse, tinha o terrível destino de morrer na cruz. Claro que mediante julgamento quase sempre sumário.
A cruz permaneceu tradicional como instrumento de tortura e morte, porque os padecimentos eram prolongados. Os próprios carrascos apreciavam essa fórmula, uma vez que os deixavam à vontade. Bastava pendurar o condenado na cruz, quebrar-lhe as pernas para evitar a fuga e o resto era sossego. Esperar que o condenado morresse, o que demorava dias. E até uma semana, dependendo de quantos corvos, ou urubus havia na região.
Quando, porém o condenado era um criminoso odiado, tanto pela população quanto pela autoridade e os carrascos, então a morte na cruz acabava por ser rápida em razão das torturas e sevícias anteriores. Chegando ao local da crucificação o condenado já estava mais morto do que vivo. E, neste caso a cruz era um consolo final. Isto era uma constante no império romano. A morte na cruz poderia ou não ser abreviada, dependendo do que se fazia antes da crucificação com o condenado. Se este era levado íntegro ao local da crucificação, todos já compreendiam que a morte daquele condenado era a mais penosa de todas, em razão da demora. Os músculos dos braços travavam e endureciam. As dores penetrantes eram irresistíveis com a agravante de não se interromperem, porque não havia como movimentar os braços. Quase ninguém consegue permanecer com os braços abertos durante vinte minutos. E se o fizer ficará com dores difíceis de suportar ao final desses dez minutos. E ainda havia os urubus, os quais já estavam acostumado com aquele cardápio alimentar.
Talvez os céus tenham ficado sensibilizados com aquela tragédia humana, que já durava milênios. Com a vinda de Jesus a cruz foi posteriormente abolida.
A contundente prova de que o Mestre Divino foi torturado excessivamente, antes da crucificação, é patente e irrefutável. A humanidade não desejando imaginar, o seu mais idolatrado filho de Deus torturado, humilhado e depois morto na cruz de forma abominável, esqueceu-se do pormenor de que três horas foram a duração de Cristo na cruz, quando uma crucificação e morte perfaziam vinte dias ou mais em condições diferentes de tratamento.
E evidente e louvável tentar esquecer isso tudo. É humano. E apostamos que o próprio Jesus apreciaria o fato de todos nós esquecermos daquele instrumento terrível. Bem que poderíamos lembrar de Jesus como um homem normal, longe da cruz, longe da humilhação de que foi alvo. Contudo, se ainda insistimos em examinar aquelas cenas sanguinolentas é porque vivemos num mundo semi-selvagem, violento e cheio de misérias humanas. Temos esquecidos das lições do Mestre. Temos olvidado suas mais sublimes palavras, constantes de Seu precioso Evangelho. Temos esquecidos de Jesus. Temos esquecido de nosso próprio destino, quando perdemos na memória as lições de Jesus. E hoje, depois de tanto tempo, só enxergamos Jesus pendurado numa cruz. Por que será que ainda não O tiramos da cruz?

Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
Autor de "Versos à Revelia" entre outros livros
jeovahmnunes@hotmail.com

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

TUDO FICA COMO ANTES NO QUARTEL DO ABRANTES

TUDO FICA COMO ANTES NO QUARTEL DO ABRANTES

A
pesar das revanches planetária na tentativa de equilibrar o clima, o Brasil numa atitude muito própria da bandidagem, continua destruindo a floresta amazônica e outras florestas pelo país todo. Cada dia que passa vamos nos aproximando do nosso dia de cão, quando os temporais, os tornados, as chuvas devastadoras, enchentes, telhados que voam, o mar que invade cidades litorâneas, enfim, o caos que poderíamos chamar de vingativo porque moramos numa casa que tem vida própria e nunca necessitou de seus moradores bípedes e inteligentes. Somos tão inteligentes que nunca prognosticamos este futuro que chegou ameaçador para nós e nossos descendentes. Estes, ao partirmos para o além, ficarão lançando impropérios contra nós que começamos esta banalização da natureza, esta inexplicável destruição. Somos seres merecedores da revanche planetária porque nossas intenções, desde o início, eram a destruição. Além disso, somos hipócritas porque estamos sempre querendo um altar de deuses para ditar rezas, achando que o verdadeiro Deus nos salvará na hora que precisarmos.
Na verdade, pela extraordinária bondade de nosso Paizão, nós jamais morreremos porque somos espíritos, semelhantes ao nosso Deus. A diferença é que Ele deseja que nós aprendamos com os nossos próprios sacrifícios. Sem sacrifícios, sem aprendizagem. A destruição do planeta levar-nos-á ao sacrifício e através deste aprendizado seremos, em outro planeta semelhante à Terra, bem mais educados e amantes da natureza. O próprio índio já teve a sua experiência em milhares de vidas e hoje o respeito à natureza não é um mandamento, mas uma prática comum. Sei que boa parte de meus leitores entenderão o que desejo passar, outra parte apegada a mandamentos e lavagens cerebrais discordarão como sempre. Não ligo, porque cada um é livre para viver a sua própria filosofia, não sendo, é claro, a filosofia da destruição. Porém, o que tem prevalecido é justamente esta filosofia. E para o Senhor de Todas as Coisas se seus filhos querem a filosofia da destruição serão totalmente atendidos, porque para Deus um planeta é um grão de areia no espaço, embora seja a casa de seus amados filhos vivendo na carne.
Daqui a vinte, ou trinta anos muitas praias brasileiras desaparecerão mesmo se interrompermos totalmente a destruição. A natureza segue um curso. Se o comportamento humano da destruição for interrompido, ela, a natureza continuará seguindo o mesmo curso até chegar ao ponto de interrupção. As periódicas reuniões sobre o clima da Terra não passam de perda de tempo. São representantes de vários países, homens de precioso conhecimento, mas que vão para essas reuniões já sabendo que nada será resolvido. O capitalismo selvagem comanda essas reuniões. “Tudo fica como antes no quartel do Abrantes”, já dizia no começo dos anos sessenta meu amigo de bar Vicente Leporace.

Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista
Autor de “Memórias de um camelô” entre outros livros

ESTAMOS MESMOS MAIS PARA O IRÃ



A visita ao Brasil do presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad foi realmente um tiro no escuro do presidente Lula. Claro que atirar no escuro pode acertar outras pessoas e acertou em cheio muitas pessoas. Houve passeatas, protestos, muitos países através da imprensa protestaram e criticaram duramente o “novo e velho Lula lá”. No Brasil apesar dos protestos realizados só o povo judeu realmente fez uma grandiosa passeata. Eles sabem o que seus genitores sofreram no passado nas mãos de “Satanás”, também conhecido como Adolph Hitler.
Os brasileiros têm o presidente que merecem ter, um homem sem estudo, sem uma esmerada educação, sem a tática que deve colocar um país no gelo como o Irã, disposto a destruir Israel. E se o Irã conseguir a bomba atômica, Lula será responsável também pela destruição de um povo, mesmo que tenha fingido ao dizer que “apoia o programa nuclear iraniano sendo para fins pacíficos”. O povo judeu lutou e ainda luta para sobreviver com grande determinação, desde os tempos nazistas até hoje porque ainda existem pessoas neste mundo que tem alma de nazista. Afinal, quem apoia um país como o Irã deve ter a frieza dos assassinatos, visto que os aiatolás adoram a matança de seus desafetos políticos. Muitos que protestaram contra a eleição fraudulenta de Ahmadinejadeadlenta do Ahmadinajanitores sofreram no passado nas m já estão condenados à morte e outros tantos já foram para o lado de lá. E apenas protestaram, coisa muito própria da democracia. Mas, um povo, cuja masculinidade não aceita a liberdade da fêmea da espécie, com certeza é um povo de vida tribal e jamais poderíamos colocar aqui a liberdade democrática que eles sequer conhecem, mas vivem apregoando uma estranha democracia suicida.
Um país onde a religião manda é algo assim da idade da pedra lascada, tanto que as mulheres lá têm o mesmo valor de um cachorro, ou de um jumento. Lula devia morar lá, para quando entrar no templo a esposa dele ficar lá fora esperando, visto que mulher não entra. Pouquíssimos são os direitos da mulher no Irã dos aiatolás, que atolaram o país nessa escuridão sem tamanho. Os tempos do Xá Reza Palevi, quando o Irã tinha o nome de Pérsia, já deixam muitas saudades, apesar do fraudulento governo principesco, ou de um reinol jamais honesto e deturpado democraticamente.
Hoje é a América do Sul que atravessa uma fase política bastante perigosa. Os sentimentos dos europeus a partir da década de vinte do século passado são semelhantes aos sentimentos da população de hoje aqui na “South America”. Países como a Venezuela estão se transformando numa bomba de alto poder explosivo na medida em que outras ditaduras crescem. Homens que se vestem sempre de vermelho buscam uma simbologia que vai se transformar no vermelho sanguinolento. Lula ainda tem um ano inteiro para permanecer no poder. Isto já é suficiente para um golpe de estado acontecer numa madrugada qualquer de 2010. E com o apoio de 80% da população o golpe seria um sucesso para os petistas. Certamente copiariam o “el paredon” dos cubanos e dia e noite ouviríamos tiros e brasileiros, contrários assim como eu, tombariam dentro da liberdade espiritual de cada um. Se na ditadura de direita a gente apanhava, na ditadura de esquerda nós seríamos sumariamente fuzilados, ou enforcados dentro de cadeias construídas para esse desiderato macabro, copiando evidentemente os costumes nazistas.
Pobre República brasileira onde predomina a violência e a maledicência política. Cada dia que passa é um dia repleto de notícias da ladroeira brasileira dos políticos. Se é que são políticos. O conceito de política é amplo e bem mais assestado como sendo a arte ou a ciência de governar. A arte e ciência da organização, direção e administração de nações ou estados. Contudo, no Brasil esta arte transformou-se em “arte de roubar”. Roubar principalmente dos pobres, esse povo brasileiro, que na sua ingenuidade, para não chamar de ignorância, aceita calado tudo o que essa politicaria brasileira está acostumada a realizar para o bem, jamais do povo, mas para eles particularmente. Tanto é verdade que a população brasileira está longe de ser bem atendida numa emergência hospitalar. Não existe educação adequada. Sem educação o pobre não consegue bons empregos e os ricos dançam e sambam nas costas dos pobres. É um país que está mesmo mais para o Irã do que para uma boa, futura e ótima democracia.

Jeovah de Moura Nunes
Jornalista e escritor
Autor de "Pleorama" entre outros livros

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

E O TREM JAUENSE DA ALEGRIA CONTINUA FIRME!

Estamos chegando ao fim do ano e o atual prefeito de Jaú parece não ser diferente do burgomestre anterior, visto possuir as mesmas características daquele que eu chamo de “a Coisa”. Possui o dom de praticar muito bem o “oba! Oba!”. Mas, fica só nisto. Até hoje não encontrei diferenças nas personalidades políticas de cada burgomestre. Todos pretenderam ser o salvador da cidade e todos não salvaram, nem melhoraram nada. Este, talvez fique conhecido como “O Prometeu”, em razão das muitas promessas. Todos nós conhecemos o clima de presságios e alegrias dos novos prefeitos. Alegrias, apenas no primeiro ano, depois começam as cobranças mais duras da população e aí nasce a desconfiança de que é mais um que vai ficar para a história por não ter feito absolutamente nada. Claro que todos nós desejamos o contrário, isto é: mudanças, progresso para a cidade como um todo. Porém, basta darmos uma olhada na história de Jaú e vamos descobrir os poucos prefeitos que ousaram mudar alguma coisa materialmente falando e isto foi quase nada. Quando aqui cheguei, há 52 anos, havia muitas esperanças no ar. Com o tempo tais expectativas foram morrendo e hoje o jauense acostumou-se com a velha rotina. Cidades vizinhas se agigantaram rapidamente com prefeitos atuantes na indústria, comércio, saúde e educação. Nós tivemos nesses mais de 50 anos um crescimento pífio, sob controle de um industrial que não aceitava a vinda para Jaú de novas empresas e conseguia isto com facilidade, já que mandava nos prefeitos. Simplesmente não queria perder seus empregados mal pagos para outras empresas. Assim qualquer um ficaria também podre de rico. Hoje são as redes barateiras de grandes supermercados que não vêm para Jaú. Por que será, hein Piu-piu?

Fico desapontado quando vejo um partido político como o Verde, nascido de mulheres guerreiras na Europa nos anos 60 e 70, não tendo nenhum compromisso com o verde das florestas brasileiras em franca destruição e das queimadas em canaviais que tanto prejudicam a atmosfera jauense, atingindo principalmente os idosos. Torna-se esta verde filosofia mais uma maneira de ludibriar a população. Fica a impressão de que tentam apenas conquistar os altos cargos levando os “amigos do rei” juntos. Espero sinceramente que no decorrer do tempo provem ao povo jauense o contrário, porque até agora tudo continua como se vivêssemos sob as rédeas da “Coisa”, hoje desesperado para se tornar um deputado à toa porque nada fará por Jaú. Com certeza se fizer algo será apenas para ele mesmo. A única coisa deixada pela “Coisa” foi o “money” para asfaltar as ruas do Cila e o novo burgomestre concluiu com grande alarde.

O partido “Verde” era para no mínimo buscar os esforços em proteger a natureza, mas não vemos ninguém do PV pronunciar um duro discurso ambientalista. São discursos na maciota e ao fazerem não colocam o meio ambiente como uma das prioridades do partido. Pelo contrário estão é divulgando políticas interesseiras, ainda por serem realizadas e ao mesmo tempo em que enchem a prefeitura de familiares e de protegidos políticos, talvez a única política dos falsos políticos brasileiros. É mais um trem da alegria, onde indivíduos chegadinhos do burgomestre arrumam facilmente empregos pagos por nós, os “Otarianos da Silva”. Fora do poder são mestres em discursos que versam sobre a proteção da natureza; dentro do poder mudam o discurso e passam a agir com as mesmas características da “Coisa” em seus oito inúteis anos. Até quando isto vai durar? Ora, com esta República travestida de monarquia pelo excesso do zeloso nepotismo, irá durar para sempre o atual e deprimente status dos jauenses, sustentando essa bandalheira explicitamente não concursada.

O simples fato de um governante praticar em sua gestão o emprego público sem concurso, excetuando-se os cargos de confiança, faz dele uma pessoa totalmente incapaz de governar, porque já desrespeitou a Constituição, ou as leis que regulam este comportamento. E quem não respeita a lei está fora da lei. E como disse Rui Barbosa: “fora da lei não tem salvação”. Mas, nos tempos do “Ruizinho” as leis eram cumpridas. Nós não somos dignos de vivermos numa democracia, quando toleramos políticos que não cumprem as leis. Cadê o Judiciário, através da Promotoria pública, para acabar com toda essa bandalheira? O presidente do STJ, Gilmar Mendes, com certeza tem ódio, raiva e alergia da irresponsabilidade de um trem da alegria. Eita Republicano arretado!

Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista, autor do romance “A cebola não dá rosas”, entre outros livros.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

NÃO AMAMOS COISA NENHUMA!

Meus artigos são lidos pela Maria José, mais conhecida como Petita, uma amiga jauense, morando no Japão há vinte anos. Fiquei satisfeito porque uma simples leitora nos incentiva a dar continuidade em escrever como uma forma de luta, ou empenho em melhorar o lugar onde vivemos. Comparou o Brasil com o Japão e simplesmente disse que não retornará tão cedo ao Brasil. Fico nas saudosas lembranças de quando íamos à casa da Sra. Odila Izar e ouvíamos as boas e sempre novas informações espíritas. Grande mestra, sublime criatura! Que os bons espíritos estejam com ela preparando novas investidas no planeta, através da reencarnação. Mas, embora residindo no Japão a Petita sabe de todas as maléficas ocorrências brasileiras através dessa bênção celestial: a internet. Tenho também muitos leitores em Sampa, Santo André, São Caetano, Picos - Piauí e por esse mundão todo. Até nosso simpático carteiro lê minhas matérias, apesar de ele achar que sou revoltado. Recebo e-mails de muita gente em apoio e solicitando para continuar assim como sou, porque não existe um “eu” ao contrário. Sempre serei o que sou e não um papel carbono. Sou assim duro nas minhas críticas porque amo o Brasil.

Quem ama seu filho, sua esposa, seu pai, sua mãe, não vai querer que essa gente amada siga os trilhos da maldade, da corrupção, da violência, da falta de estudo e da falta do que fazer. Quem não critica este sim tem muito mais tendência a não amar o Brasil, porque deseja que tudo continue como sempre. Parece até que levam vantagem com o atual status social. Por isto, enquanto meu país nadar num mar de corrupção estarei sim assestando minha metralhadora crítica para esse oceano de políticos ladrões. Quem não se mexe, não protesta e nada faz para melhorar um milímetro sequer deste país, não pode mesmo reclamar porque não o ama. E se disser que ama, mente escandalosamente porque o amor move as pessoas no intuito de melhorar o lugar que se vive.

É decisório e crucial de que História do Brasil a maioria não sabe nada neste país. O que já dava, ou ainda dá sinais de desamor, ou do falso amor pela pátria. A maioria dos brasileiros desconhece, por exemplo, a extraordinária epopéia vivida pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, muito mais conhecido como o “Tiradentes”. E o feriado de 21 de abril de todos os anos esvazia-se na evidência da ignorância das pessoas, que jamais ouviram falar em Tiradentes. E se ouviram, pouco estão se lixando para o extraordinário herói brasileiro, o qual deve ter morrido em vão na forma como sua lembrança vai-se apagando. A maioria também nunca ouviu falar de Antônio João Ribeiro, um herói brasileiro juntamente com quase vinte soldados e uma mulher na tentativa de deterem centenas de paraguaios no dia 28 de dezembro de 1864, no intuito de proteger a retirada das mulheres, dos idosos, trabalhadores e agricultores no dia da invasão paraguaia ao Brasil. Muitos heróis são ignorados pelo povo brasileiro, cujos desvios de uma conduta patriótica é sentimento comum em todos os rincões brasileiros. Enfim, o brasileiro ama apenas o “país das maravilhas”, mas não deseja nenhum sacrifício para manter este amor.

O jornal “Comércio do Jahu” – www.comerciodojahu.com.br - divulgou em data de 21.04.2006 uma pesquisa entre a população sobre Tiradentes e chegou ao resultado de que 70% das pessoas ignoram quem foi o inconfidente mineiro. Neste mesmo trabalho informativo há uma entrevista com uma historiadora jauense afirmando com todas as letras de que “a falta de memória ocorre porque as pessoas não dão importância para a história do país. Aqui em Jaú e em todo o Brasil, a população não tem o hábito de reverenciar nossos heróis”. A historiadora acredita que ter um bom conhecimento em História é o principio para a compreensão dos fatos sociais da atualidade. “Quando falo” – diz ela na reportagem – “quando falo para as pessoas que sou professora de História, geralmente ouço um “credo!”, como resposta. O desinteresse com nosso passado é muito grande”. Apenas isto já nos dá a certeza de que o brasileiro mente quando diz que ama o Brasil. Quando a gente ama algo, ou alguém, conhece de perto este algo, este alguém. Amar sem conhecer não é amar é mentir. Os brasileiros do passado, heróis, que deram a vida por este país devem estar insatisfeitos com o brasileiro da época atual: um tipo sem conhecimento dos nomes de nossos heróis, os quais tudo fizeram para expandir nossas fronteiras, defendendo-as e morrendo por elas. Alguém aí ouviu falar no casal Arruda? Na epopéia de Dourados? Nos heróis da tomada de Monte Castelo na Itália, em 1944/45. Nos EUA qualquer criança conhece o que foi o “Álamo”. Existe até cemitério para os heróis. Aqui conhecemos os nomes de bandidos, mas não conhecemos nossos heróis e temos também nosso Álamo só que nunca ouvimos falar dele. E ainda dizemos que amamos este país. Não amamos coisa nenhuma! Como diria o Boris Casoy: “Isto é uma vergonha!”.

Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
Autor do romance: "A cebola não dá rosas" entre outros livros.

TENENTE ASSUNÇÃO ERA O SEU NOME...



Às sete horas da manhã do dia 15.08.1942 desatracou do porto de Salvador, BA, um navio chamado “Baependi”. Este navio estava repleto de brasileiros, umas 350 pessoas, incluindo a tripulação e uma unidade do Exército. Os oficiais e soldados iam acompanhados de suas famílias, algumas com muitas crianças. À noite o navio iluminou-se em festiva comemoração ao aniversário do comissário de bordo. Um jantar alegre e farto foi servido a todos; uma orquestra tocou animadamente até tarde da noite. A alegria foi uma nota marcante a bordo. Enquanto no salão se dançava, lá fora na popa, os soldados, quase todos cariocas ficavam em cima de canhões e grandes caixas. Reunidos em grupos tocavam pandeiros e batiam em latas cantando seus pagodes à moda dos morros do Rio de Janeiro. Tarde da noite as luzes se apagaram e o navio singrava a umas vinte milhas da costa baiana, quando subitamente um enorme estrondo sacudiu violentamente o navio. Quebraram-se vidraças, o madeiramento estalava e rangia, e depois se arremessou para cima voando estilhaços de vidro e madeira para todos os lados. Morrem as primeiras pessoas e muitas outras estavam com o rosto sangrando em razão dos fragmentos de vidro. Algumas totalmente cegas gritavam pedindo ajuda. Ninguém entendeu naquele momento o que estava acontecendo. No segundo estrondo, que neste caso foi violenta explosão, todos compreenderam tarde demais o quê estava acontecendo: -Fomos torpedeados – gritou alguém. O segundo torpedo foi o tiro de misericórdia. O “Baependi” começa a afundar rapidamente. O navio aderna para o lado esquerdo e o que era parede se transforma em chão. Não houve sequer tempo de baixarem as baleeiras.
Gritos pungentes eram ouvidos por toda parte do navio. As águas envolvem o velho vapor de forma violenta, posto que o mar estava agitado naquela noite. Muitas pessoas foram arrancadas por ondas enormes do convés inclinado. O navio apita tenebrosamente, um apito longo, agonizante de estertor. Depois totalmente submerso deixa uma camada de seres humanos lutando para não afundar, tentando nadar, agarrando-se a qualquer coisa que flutuasse. Gritos terríveis de socorro de homens, mulheres e crianças, que se afogavam em massa eram ouvidos na escuridão. Em minutos tudo foi silenciando e ouve-se um grito aqui outro acolá. A maioria daqueles viajantes sucumbiu. Uma única baleeira escapou do desastre ao ser arrancado dos ferros que a prendiam no convés pela explosão do segundo torpedo. Trinta e seis sobreviventes apareceram em estado lastimável nas praias baianas. Mas, as famílias de pescadores não quiseram ajudá-los porque a maioria estava nua, ou somente com as roupas íntimas. Só depois de compreenderem o acontecido é que passaram a ajudar os náufragos.
Quase todos os militares foram tragados pelas ondas. Um jovem tenente, depois de socorrer muitas pessoas e sabendo ao final que estava tudo perdido, cedeu o seu salva-vidas para uma senhora, a qual se agarrava ao tombadilho. Isto feito gritou por várias vezes em alto e bom tom: -Viva o Brasil! -Viva o Brasil! Muitos soldados repetiram o grito. O jovem atirou-se ao mar escuro daquela noite alegre a princípio, mas que se tornou de triste memória. O jovem – tenente Assunção era o seu nome – lançara em voz vibrante aquele grito derradeiro de patriotismo, lembrando a todos nós dos compromissos de luta contra as ditaduras fascistas, nazistas, comunistas e seja o que for a atingir nossa liberdade e nossas vidas!
Naquela mesma noite outro navio brasileiro foi torpedeado pelos nazistas: o “Araraquara”. Os sobreviventes do Baependi na baleeira viram os clarões distantes e os estrondos parecidos com trovões. Mas, ainda assim, o ditador Vargas, teimou em esperar mais dois anos para entrar na guerra. Muitos navios ainda foram a pique nas costas brasileiras para que o Brasil realmente se sensibilizasse, ou nascesse no povo o ódio contra os nazistas. Hoje a América Latina ficou semelhante à Europa de 1933 à 45 com os tais nacionalismos e socialismos, esses “ismos” que levam o povo à lugar nenhum, senão à morte e as visões infernais das ditaduras. E têm brasileiros que adoram essas espécies de ditaduras, porque evidentemente levam vantagem como certos partidos políticos. Elas destroem a sociedade constituída a longas penas.
“Este texto é de autoria do capitão Lauro Moutinho dos Reis – extraído de Seleções do Reader’s Digest de março de 1945, com pequenas modificações minhas. O texto do capitão é muito mais frio, realista, dramático e emocionante”.

Jeovah de Moura Nunes
Autor do romance: “A cebola não dá rosas” entre outros livros.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

UM MURO EM NOSSAS VIDAS



Não o percebemos. Mas, estamos sempre construindo um muro em nossas vidas. Compramos um terreno e a primeira coisa a fazer é cercá-lo como se fosse uma tradicional obrigação em nossos interesses. Cercar um terreno é visivelmente anunciar ao mundo com palavras mudas: “isto é meu, façam o favor de não tocar no que é meu!”. Construímos nossas casas e fechamos todas as saídas e entradas com grades de ferro. Colocamos alarmes e ficamos atentos ao menor barulho em noites de insônia. Estamos constantemente imaginando um meio de melhorar nossa segurança. Temos vivido assim há milhares de anos. Os castelos da Idade Média dão um atestado de nossas preocupações em zelar pelo patrimônio, que pensamos possuir e ao final de tudo notamos que nada possuímos no planeta. Claro que esta conclusão chega sempre atrasada. Às vezes nem chega. Mesmo num leito de morte estamos agarrados aos nossos pertences, como se fizesse parte de nosso corpo. Como se aquilo resolvesse alguma coisa em nossa vida desde o nascimento.
Morte. Ninguém pensa nela. E quando pensa sempre o faz de maneira incorreta. Não leva a sério as palavras repletas de profundidade dos filósofos do passado. A morte também se transformou num muro inquestionável em nossas vidas. Não aceitamos esse muro imposto pelo alto. E de nada adianta não aceitar. Nós o teremos mais dias menos dias. O muro da morte não é sequer estudado com mais afinco pela moderna ciência, empinada em seus orgulhos de deuses gregos repletos de soluções. Soluções para tudo menos para a morte. Enfim, a humanidade com toda sua empáfia filosófica nem quer ouvir falar em morte, quando diariamente convive com ela. O homem constrói um muro imaginário em volta da palavra morte, e não ousa pronunciá-la nos momentos que mais necessita estar em sintonia com essa banalidade, a qual nada mais é do que uma transposição de mundos vibratórios. Este mundo é pesado, ar carregado de moléculas, sendo mais rarefeito na medida em que subimos na atmosfera. Outro mundo ainda sendo descoberto é o mundo submarino. Foi na água e da água que todos nós viemos e vivemos por muito tempo. Evoluímos para a terra firme e agora estamos empenhados em sair do planeta. Porém, a morte é a única e a verdadeira saída. Ela continua sem ser pesquisada no interesse de saber mais o que nos aguarda. Os cientistas têm receio de estudar a morte com mais interesse, porque envolve questões religiosas e isto é um fardo pesado em cada um de nós. Pesado porque tem sido ao longo de milhares de anos os motivos maiores de nossas desavenças no planeta. Guerras e mais guerras foram deflagradas em razão das religiões, quando estas vieram para pacificar e apontar um caminho para o entendimento da morte. Os cientistas também querem preservar seus nomes e seus interesses. Isto é, eles também construíram seus muros de vaidade. E então não querem cair no ridículo, porque informar, depois de muitas pesquisas, que a morte não existe acaba com a carreira endinheirada de muitos estudiosos.
Muitos batem no peito e dizem: - “Não acredito na vida depois da morte porque ninguém veio de lá para me informar”. Ora, nos Estados Unidos, país evoluído na medicina é comum as pessoas retornarem da morte e explicarem extasiadas o que viram, as pessoas com quem conversaram e outras tantas informações. Normalmente, as narrações são padronizadas: um túnel. Uma luz muito forte. Pessoas. Quase sempre parentes que informam não ter chegado a hora da transição daquela pessoa. E por isto ela necessita aceitar a volta. Quase sempre as pessoas que passam por essa experiência, chamada cientificamente de EQM - “Experiência de Quase Morte”, transformam suas vidas radicalmente. Passam a viver melhor e aceitam todo e qualquer destino que lhe venham mudar mais ainda suas vidas. A maioria procura praticar mais a caridade. E somente nos Estados Unidos, ao longo desses últimos vinte anos são aproximadamente 10 milhões de pessoas que retornaram da morte para dizer que a vida continua.
Mas, sempre vai existir alguém duvidando dessas coisas. Não sabem que existem nos bons hospitais americanos máquinas ressuscitadoras das vítimas de paradas cardíacas. Esquecem que a diferença entre Brasil e EUA é a mesma de uma aldeia indígena para uma megalópole como São Paulo. Este país chamado Brasil, onde estamos mais para a dança tribal das eras passadas do que para um país realmente sério e desenvolvido.

Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista
Autor do romance “A cebola não dá rosas” entre outros livros.

A VIOLÊNCIA É FRUTO DOS EXEMPLOS DA REPÚBLICA



Crescem as violências diárias no Brasil, os assaltos e roubos. Verdadeiras quadrilhas formam o que podemos denominar “pelotões de assaltos” e de extermínio do pobre cidadão indefeso, porque simplesmente o país – este amado Brasil – retirou, à força de lei, as armas que poderiam nos defender. Talvez isto tenha ocorrido para salvaguardar os bandidos e assassinos já que os políticos parecem fazer parte também dessa malta, quando as notícias explodem na imprensa quase sempre apontando mais um político ladrão. O fato é que para todos os governos brasileiros o cidadão comum não vale nada. Podem ser assassinados no atacado. “Eles” esquecem que esses cidadãos são eleitores e poderiam votar neles políticos. Então isto se torna uma politicalha errada “deles”. É coisa de dar muitas risadas, embora seja algo dramático e aterrorizante. Realmente não temos mais soluções para conter a criminalidade, simplesmente porque o Código Penal de 1941 é uma piada festiva para a falta dos direitos do cidadão honesto com grande lucro para quem rouba, assalta, mata e faz o que bem entende e gosta de fazer. Este é o Brasil de todos nós, mas muito mais para quem não é honesto. O honesto não passa de um otário e os ladrões agem na calada da noite, isto é: trabalham demais. Cadeias para eles gozarem umas férias? Parece que as vagas estavam se acabando e já de pronto o governo prepara-se para a construção de novos presídios, digo, hotéis de uma ou de várias estrelas. No meu simplório entendimento com a pena de morte não necessitaríamos de mais cadeias.
Muito diferente do tempo em que prenderam os inocentes Irmãos Naves. A família inteira foi torturada durante meses para contar o crime que eles nem sabiam de sua existência. Um delegado nomeado pelo ditador Vargas adorava torturar os Naves. Até uma criança recém nascida foi torturada juntamente com a mãe. Hoje, bandido vive mil vezes melhor do que um trabalhador honesto e bem por isto o crime aumenta a olhos vistos. E se não existem cadeias para políticos criminosos, seria de bom alvitre que não houvessem cadeias para os criminosos comuns, posto que o direito seja para todos e não apenas para os políticos. Ou será que o artigo 5º da Constituição já foi para os quintos? Neste caso, o criminoso poderia requerer sua “carteira profissional de criminoso”. Lembro-me de um freguês-ladrão nos meus tempos de camelô, quando me perguntou se a honestidade valia a pena. Eu lhe disse que valia a pena porque o homem honesto não vive assustado, já que não tem nenhum débito com a sociedade. Ele sorriu e ironizou: “não vive assustado, mas vive sem dinheiro!”. Depois me perguntou: “você vive sem dinheiro?”. Respondi-lhe: “até vivo sem dinheiro, mas acabei de lhe vender umas cuecas e o seu dinheiro veio parar no meu bolso”. O ladrão puxou o revólver e apontando para mim, disse: “eu posso tomar esse dinheiro que era meu”. Respondi-lhe então: “sim. Você pode. Mas, ainda que este dinheiro vá para o seu bolso, ele continuará sendo meu”. O rapaz afastou-se meio constrangido. Percebi que ele compreendera o que eu lhe dissera.
Nos tempos do Império Brasileiro havia a pena de morte e prisão perpétua. Maria Quadrado, uma jovem de 20 anos fora condenada à morte. O imperador comutou a pena para prisão perpétua. Mas, a mocinha conseguiu fugir e pegou a estrada para Monte Santo, carregando uma pesada cruz de dez metros, porque fora violentada quatro vezes após sair de Salvador BA. No início da caminhada ela vestia duas saias, usava tranças e alpercatas. No caminho resolveu doar as roupas aos mendigos, os calçados foram roubados em Palmeira dos Índios. Quando chegou a Monte Santo já estava descalça e vestia apenas um saco de esparto com buracos para os braços. Sua cabeça raspada lembrava os loucos do hospital de Salvador. Ela mesma raspara depois de ser violentada pela quarta vez. Mas, esta mocinha tornou-se tempos depois o braço direito de Antônio Conselheiro, o chefe supremo da extraordinária Canudos. Hoje sua fama e aventuras correm os países como personagem literária de nossa cultura, no livro de Mario Vargas Llosa. Foi preciso um estrangeiro contar uma história proibida pela nossa República porque nós não ousamos falar de Canudos. Principalmente da coragem dos canudenses, uma coragem que a maioria dos brasileiros de hoje não possuem. Maria Quadrado morreu degolada com trezentas outras mulheres e dezenas de crianças, defendendo e dando vivas ao Conselheiro sem reclamar da República, que não queria deixar testemunhas do grandioso banho com o sangue dos pobres. Hoje nada mudou. Os pobres continuam pobres. O sangue deles derramado pela criminalidade não tem nenhuma importância para todos os governos empinados em seus pedestais. Mas, quando um rico é assassinado tudo é providenciado, até a imediata pensão vitalícia para a esposa “queridinha”.

Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
Autor do romance “A cebola não dá rosas” entre outros livros

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A NOSSA MAIOR VERGONHA!

Aquela multidão em Copacabana pulando igual aos sapos em lagoa dava o que pensar, quando foi escolhido o Brasil para sediar as Olimpíadas de 2016. Um país ainda miserável, repleto de favelas, de trabalhadores mal pagos, de corrupção ativa e passiva dos políticos, com um passado tenebroso de ditaduras, de uma escravidão ainda por ser extinta, porque quando somos mal pagos não passamos de escravos. Acabar com a escravidão através de decreto é fácil o difícil é corrigir as consequências advindas de uma população abandonada desde o 13 de maio de 1888, vivendo num país onde os políticos gritam aos quatro cantos do mundo uma democracia das mais atuantes, enquanto a miséria absoluta domina boa porcentagem da população. Isto não é propriamente uma democracia e sim um flagrante costume de escravizar o trabalhador através da pobreza. O pobre permanece na condição social que os ricos e os políticos desejam: sem educação para a mão de obra não ter os custos que em outros países civilizados têm. Brasileiros em levas vão para esses países justamente em razão desse comportamento ditatorial aqui no Brasil, quando lá fora o capital paga muito bem pela mão de obra desqualificada. Aqui exigem a qualificação, quando não temos acesso a essa qualificação. Os ricos têm em abundância esse acesso e apenas eles usufruem de uma cidadania verdadeira.
Legalmente a escravidão acabou, porém esses governos republicanos desde o golpe contra a monarquia não conseguiram melhorar a vida da população pobre. Ou seja: “eles” não conseguem acabar com a miséria, simplesmente porque roubam demais. E o pior: não existem leis que punam exemplarmente os ladrões dos cofres públicos e eles, os políticos, jamais legislarão contra eles mesmos. Fica a impressão de que a República não queria acabar com escravidão e em razão disso fizeram o imperador sair correndo do Brasil com o golpe, assim o Brasil continuou na mesma escravidão, com apenas uma evolução social pela extinção do chicote. Mas, permaneceu a miséria das favelas, das palafitas nos alagados, dos empregos mal pagos e, além disso, ainda temos a “bolsa-esmola”, paga por um governo que não conhece a dignidade humana. Se conhecesse saberia que a esmola deteriora o espírito do trabalhador. Tudo para estimular a frequência escolar das crianças, ainda que tenha de sentar no chão de escolas sem carteiras, sem telhados, sem lousas, sem cadernos, sem escolas, sem professores, sem nada, nem mesmo a vontade dessas crianças. A “bolsa-esmola” é a vontade de estudar comprada pelo governo, quando não existem escolas dignas nas zonas rurais e nos sertões.
Somos obrigados a votar nesses mesmos políticos aranzéis de sempre até aos 70 anos de idade, começando com 16 anos e a cada dois anos. Gastam-se rios de dinheiro para cada eleição, a qual poderia ser apenas de quatro em quatro anos. Mas, dinheiro no Brasil é capim para “eles”. Então, votamos obrigatoriamente a cada dois anos. É um sufoco! Ainda se houvessem bons candidatos, mas isto é apenas uma piada imaginada. Não há bons políticos, aliás, nunca houve. O bom político é aquele que ao se eleger trabalha bastante e ao deixar o cargo continua pobre. Mas, este modelo no Brasil não é conhecido da população. Eles começam pobres e saem milionários, mais do que se houvessem ganhado numa mega-sena. E o povo gosta disso porque já se acostumou a algo que “eles” conseguiram adaptar ao gosto da população. Tudo longe da verdadeira democracia porque numa democracia verdadeira o cidadão nem precisa votar se não está com vontade de votar. O país antidemocrático obriga o povo a votar e este é o nosso caso. Esta obrigação nasceu do medo dos políticos de não existirem eleitores suficientes para elegê-los, então fazem as leis favorecendo a eles mesmos. Exemplo maior é justamente a obrigação de votar até os 70 anos e começando pelos 16 anos.
Países nascidos da mesma maneira nossa, como os EUA, Canadá e outros já avançaram demais na honra e na cidadania de seus povos, enquanto nós simplesmente não fomos colonizados por pessoas de grandioso espírito de fraternidade, igualdade e liberdade. Fomos colonizados por espertalhões, enganadores, ladrões e até assassinos. As exceções só começaram depois da chegada dos imigrantes muito mais politizados e avançados socialmente. Uma olimpíada ainda por ser preparada deve aguçar a cobiça dos construtores, com as corriqueiras tramóias e superfaturamentos, enriquecendo os ricos, os políticos e empobrecendo os pobres que acreditam na imensa mentira dos políticos. Em 2016 a miséria será com certeza dissimulada, ou acobertada para que o mundo não veja a nossa triste e maior vergonha em procurar comida nos lixões, juntamente com uma nuvem de urubus. Esta é a anatematização do pobre povo brasileiro que não se qualificou para ser um bom e ótimo ladrão, a exemplo de grande parte dos políticos brasileiros e dos que se enriquecem com “enorme facilidade”. Depois das olimpíadas a escravidão através do emprego mal pago continuará sempre feliz e contente.

Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
Autor de “A cebola não dá rosas” entre outros livros.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

DEUS É O SILÊNCIO; AS RELIGIÕES SÃO O BARULHO

Fui criado dentro dos parâmetros cristãos ditados pela igreja católica, que em grego significa universal. Fui coroinha e sabia rezar o “confiteor” em latim inteirinho com apenas oito anos de vida. O “confiteor” (eu confesso) é a oração em que confessamos nossas culpas. Com aquela idade eu nem sabia o que eram culpas. Às seis horas da manhã subia na torre da igreja de São Simão para bater os sinos, chamando a população para o santo ofício da missa. Todos os dias fazia isto e gostava de fazê-lo. Em 1968 com 23 anos residia eu em São José do Rio Preto e tive vontade de entrar na igreja matriz daquela cidade a fim de fazer algumas orações. Havia um ato solene de casamento e fui expulso daquela igreja por alguns seguranças, alegando que minhas vestes não eram adequadas ao ritual de elevada posição social daquela gente toda. Era afinal o casamento de um grande fazendeiro da região e só entravam grã-finos. Triste, magoado com o vexame, senti muita raiva daquela faustosa reverência social-religiosa, a qual não se harmonizava com meus sentimentos. Naquele dia jurei a mim mesmo nunca mais entrar numa igreja católica porque se fosse realmente a casa de meu Pai tenho certeza que eu e nenhuma outra pessoa má vestida seríamos expulsos. E cumpri este juramento até... Até o dia de meu casamento! Ainda assim implorei a então minha noiva para não casarmos na igreja, e sim no cartório civil. Ela não aceitou e depois de muitas conversas garantiu que ganharíamos muitos presentes se a cerimônia fosse numa igreja. E assim, por interesse, acabei aceitando o casamento na igreja católica. Cheguei ao altar com uns gorós na cabeça.

Perdi a fé no catolicismo quando percebi muitas coisas erradas. Uma delas é a expressa proibição do Vaticano quando não permite o casamento de seus religiosos. Ora, isto cheira à sutilidade de não querer dividir a imensa riqueza conquistada, através de métodos não divulgados, com as mulheres que obviamente fossem casadas com os padres. Contudo, o Vaticano terá que dividir tal riqueza com famílias americanas, cujos filhos foram vítimas da pedofilia dos padres. Lá nos EUA existem leis duras, aqui as leis favorecem quaisquer tipos de crimes e muitos perigosos criminosos são paparicados, inclusive pedófilos ricos.

Agora vem a notícia de que o presidente Lula assinou um acordo com o Vaticano para que tenhamos nas nossas escolas públicas o ensino do catolicismo obrigatório. É mais uma herança dos tempos da “santa inquisição” e, além disso, uma flagrante violação do artigo 5º da Constituição de um país que se diz laico. Mas, para este presidente já em estágio final de governo, sem ter produzido nenhum ato importante que realmente marcasse seu mandato de oito inúteis anos, o acordo entre ele e o papa deve ser muito relevante. Nosso país ficará em pé de igualdade com os países do Oriente, da Ásia e outras plagas, onde as guerras religiosas instalaram-se há milhares de anos. O Brasil que sempre foi uma nação pacífica, religiosamente falando, apesar da guerra civil com a bandidagem, também terá os litígios religiosos, que se transformarão com o tempo em guerras. Fico a imaginar que este nosso presidente não tem mais nada que fazer no cargo de presidente, a não ser reinventar a discórdia em todo o país com tal medida. Discórdia religiosa, diga-se. Tenho vivido muito bem sem ser partidário de religiões, cujas ostentações de riquezas não combinam com a humildade de Jesus naquela missão de melhorar o homem e não fundar religiões.

Esperamos que o Senado não aprove tal matéria. Caso contrário estará aprovando uma declaração de hostilidade porque não são todos os brasileiros partidários do catolicismo. A catequização católica nas escolas públicas só vai trazer a discórdia e as mazelas dos conflitos. Morre mais gente em defesa de suas religiões do que em defesa de seus países. O catolicismo sendo currículo escolar obrigatório estará fadado a ser discriminado pelos cidadãos não católicos. Até hoje procuro me afastar dessas ostentações religiosas, principalmente quando lembro de meu melhor amigo, cheio de bondade, pobre, amante da vida, carregando uma cruz e morrendo nela para que eu entendesse o que é a vida! Tão amigo que deixou a receita de bem viver chamada de “Boas Notícias”. Jesus não fundou religiões e sim as regras de bem viver neste lindo planeta e nós estamos muito longe de praticarmos o que Ele sempre nos ensinou, principalmente a simplicidade, a humildade, a convivência com todos e o respeito aos animais e ao planeta e nós podemos iluminar o mundo apenas com o silêncio.

Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista
Jeovahmnunes@hotmail.com

A BESTA DO APOCALIPSE

Já o percebemos. Já sentimos as inúmeras destruições dentro do nosso ambiente de vida material. Já sabemos que a natureza merece o respeito e a política de conservação, mas poucos estão atuando para que isto se torne uma realidade. Não há mais verão na temporada certa; não há mais inverno nos meses certo; não há outono; não há primavera. Tudo se transformou nas quatro estações diárias ou semanais durante todo o ano e daqui para frente tende a piorar, quando cada gigantesca árvore é derrubada em algum lugar do mundo, principalmente na Amazônia. A humanidade é amante da destruição, do desmantelamento do equilíbrio ecológico. Então o extermínio, o arrasamento, a extinção, a derrota da humanidade já começou. De agora em diante estamos a mercê de uma natureza desequilibrada e nós nada mais poderemos fazer, porque a destruição das florestas é irreversível.

Um famoso médium previu a volta de Jesus com a finalidade de levar a humanidade (em forma de espírito, é claro) para uma galáxia distante onde haja um planeta semelhante à Terra de milhares de anos atrás, com a finalidade de reiniciar a vida humana na carne. Se isto ocorrer será uma vergonha para todos nós, os destruidores da Terra. Precisamos entender que o céu não se ganha somente com a morte do corpo, o espírito terá de viver muitos milhares de vidas carnais para chegar a uma quase perfeição. Quando nosso corpo morre, renascemos espiritualmente para mais trabalho e mais aprendizado e depois voltamos à carne novamente para provarmos nossa melhora. Então, sem conhecer esta básica verdade o homem destrói a sua escola (planeta). Em conseqüência o clima e a paisagem vão mudando e nós vamos conhecendo o inferno de perto. A natureza não se revolta, busca o equilíbrio. Neste ajuste natural é onde o homem sofre as terríveis conseqüências.

Tudo que é verde representa a natureza, principalmente na vida dos vegetais, que respiram e se alimentam de nutrientes como nós o fazemos. O vegetal alimenta todos os animais desde os perdidos milênios terrestres. Então o nome de um partido político “Verde” era para no mínimo buscar os esforços de proteger a natureza, mas não vemos ninguém do PV pronunciar um duro discurso ambientalista. São discursos na maciota e ao fazerem, não colocam a natureza como uma das principais políticas de auxílio, de socorro com os necessários resultados. Pelo contrário, estão é divulgando notórias políticas públicas do “oba oba” ainda por serem realizadas e ao mesmo tempo em que enchem a prefeitura de familiares e de protegidos políticos, talvez a única política de quem atinja o poder neste país. Fora do poder são mestres em discursos que versam sobre a proteção da natureza; dentro do poder mudam o discurso e passam a agir com as mesmas características dos fracassados governos anteriores.

É do meu filho o Glauber, o seguinte texto escrito há muitos anos: “estamos no terceiro milênio e o ser humano continua devastando sem piedade. Continua com os holocaustos de florestas e animais. Os ambientalistas querem mostrar suas vontades de protegerem o planeta, mas é tudo em vão. Há alguns dias, em uma tarde de sábado, resolvi mergulhar costumeiramente nas águas da cachoeira “Amadeu Botelho”, como é conhecida. Chegando ao local, deparei-me com uma grande parte da mata ciliar em chamas. Coisa horrível! Tudo estava tomado pelo fogo. Naquele momento tive ímpetos de jogar água com as mãos nos focos de incêndios. Mas, não adiantava nada e seria por demais patético”. Meu filho, que colaborou com o Greenpeace alguns anos, chegou em casa naquele dia totalmente abatido, triste e revoltado. Até hoje ele, nos seus quadros pintados a óleo, condena o comportamento do homem, como sendo um criminoso, um destruidor de florestas.

Em Jaú ouvimos muitas conversas e pouco progresso, no que tange à proteção da natureza mesmo com o PV no poder. O desânimo dos verdadeiros ambientalistas é algo visível. Lutar contra um poder político que se torna inimigo de quem ama a natureza é impraticável. Como disse Anne Frank em seu último texto do diário no dia 1º de agosto de 1944: “para ser sincera, devo admitir que tento mudar por todos os meios, mas estou sempre em luta contra um inimigo muito mais poderoso”. Três dias depois ela foi levada pelos alemães para um inferno chamado “Bergen Belsen” um dos mais terríveis campos de concentração onde foi assassinada.
Nós, todos nós, tanto ricos quanto pobres somos responsáveis pela destruição do planeta, nossa morada. A natureza desequilibrada, enlouquecida tal e qual a “besta do apocalipse” não é a “besta do apocalipse”. Nós, sim, somos a “besta do apocalipse” porque desobedecemos a regra máxima de Deus “não matar”. Estamos matando o planeta Terra, destruindo a nossa morada num suicídio generalizado e incompreensível.

Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
jeovahmnunes@hotmail.com

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DEUS É SILÊNCIO; AS RELIGIÕES SÃO O BARULHO

Fui criado dentro dos parâmetros cristãos ditados pela igreja católica, que em grego significa universal. Fui coroinha e sabia rezar o “confiteor” em latim inteirinho com apenas oito anos de vida. O “confiteor” (eu confesso) é a oração em que confessamos nossas culpas. Com aquela idade eu nem sabia o que eram culpas. Às seis horas da manhã subia na torre da igreja de São Simão para bater os sinos, chamando a população para o santo ofício da missa. Todos os dias fazia isto e gostava de fazê-lo. Em 1968 com 23 anos residia eu em São José do Rio Preto e tive vontade de entrar na igreja matriz daquela cidade a fim de fazer algumas orações. Havia um ato solene de casamento e fui expulso daquela igreja por alguns seguranças, alegando que minhas vestes não eram adequadas ao ritual de elevada posição social daquela gente toda. Era afinal o casamento de um grande fazendeiro da região e só entravam granfinos. Triste, magoado com o vexame, senti muita raiva daquela faustosa reverência social-religiosa, a qual não se harmonizava com meus sentimentos. Naquele dia jurei a mim mesmo nunca mais entrar numa igreja católica porque se fosse realmente a casa de meu Pai tenho certeza que eu e nenhuma outra pessoa má vestida seríamos expulsos. E cumpri este juramento até... Até o dia de meu casamento! Ainda assim implorei a então minha noiva para não casarmos na igreja, e sim no cartório civil. Ela não aceitou e depois de muitas conversas garantiu que ganharíamos muitos presentes se a cerimônia fosse numa igreja. E assim, por interesse, acabei aceitando o casamento na igreja católica. Cheguei ao altar com uns gorós na cabeça.

Perdi a fé no catolicismo quando percebi muitas coisas erradas. Uma delas é a expressa proibição do Vaticano quando não permite o casamento de seus religiosos. Ora, isto cheira à sutilidade de não querer dividir a imensa riqueza conquistada, através de métodos não divulgados, com as mulheres que obviamente fossem casadas com os padres. Contudo, o Vaticano terá que dividir tal riqueza com famílias americanas, cujos filhos foram vítimas da pedofilia dos padres. Lá nos EUA existem leis duras, aqui as leis favorecem quaisquer tipos de crimes e muitos perigosos criminosos são paparicados, inclusive pedófilos ricos.

Agora vem a notícia de que o presidente Lula assinou um acordo com o Vaticano para que tenhamos nas nossas escolas públicas o ensino do catolicismo obrigatório. É mais uma herança dos tempos da “santa inquisição” e, além disso, uma flagrante violação do artigo 5º da Constituição de um país que se diz laico. Mas, para este presidente já em estágio final de governo, sem ter produzido nenhum ato importante que realmente marcasse seu mandato de oito inúteis anos, o acordo entre ele e o papa deve ser muito relevante. Nosso país ficará em pé de igualdade com os países do Oriente, da Ásia e outras plagas, onde as guerras religiosas instalaram-se há milhares de anos. O Brasil que sempre foi uma nação pacífica, religiosamente falando, apesar da guerra civil com a bandidagem, também terá os litígios religiosos, que se transformarão com o tempo em guerras. Fico a imaginar que este nosso presidente não tem mais nada que fazer no cargo de presidente, a não ser reinventar a discórdia em todo o país com tal medida. Discórdia religiosa, diga-se. Tenho vivido muito bem sem ser partidário de religiões, cujas ostentações de riquezas não combinam com a humildade de Jesus naquela missão de melhorar o homem e não fundar religiões.

Esperamos que o Senado não aprove tal matéria. Caso contrário estará aprovando uma declaração de hostilidade porque não são todos os brasileiros partidários do catolicismo. A catequização católica nas escolas públicas só vai trazer a discórdia e as mazelas dos conflitos. Morre mais gente em defesa de suas religiões do que em defesa de seus países. O catolicismo sendo currículo escolar obrigatório estará fadado a ser discriminado pelos cidadãos não católicos. Até hoje procuro me afastar dessas ostentações religiosas, principalmente quando lembro de meu melhor amigo, cheio de bondade, pobre, amante da vida, carregando uma cruz e morrendo nela para que eu entendesse o que é a vida! Tão amigo que deixou a receita de bem viver chamada de “Boas Notícias”. Jesus não fundou religiões e sim as regras de bem viver neste lindo planeta e nós estamos muito longe de praticarmos o que Ele sempre nos ensinou, principalmente a simplicidade, a humildade, a convivência com todos e o respeito aos animais e ao planeta e nós podemos iluminar o mundo apenas com o silêncio.

Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista